quarta-feira, 10 de março de 2010

O que você é?

Em resposta a esta pergunta, respondi: "sou editor". O treinador, que já esperava pela resposta, devolveu: "perguntei o que você é, não o que você faz". Outras pessoas responderiam algo como 'sou corintiano', 'sou brasileiro', 'sou pai da Mariana e do Cauê', mas ainda não era isso o que o treinador queria, e sim que buscássemos uma definição mais essencial do que somos. Cada vida encerra uma ou várias grandes jornadas, os caminhos de formação que nos levam a ser o que somos. Para alguns, esse caminho os leva na direção da construção de uma família, e é assim que eles se definem; na direção de uma carreira, e é assim que se definem; na direção da arte, e é assim que se definem.
Meus caminhos de autoconstrução me levaram a várias definições e ainda vão me levar a outras, mas não tem jeito, é o caminho profissional que sempre vem à mente primeiro. Após uma jornada de 20 anos, aprendendo, descobrindo, desafiando-me, minha profissão é um projeto importante demais para ser ignorado. A maior parte do dia (e da noite) cogito como editor, ergo sum editor. Com prazer, porque amo o que faço. Mas fico feliz de lembrar que esse é, e sempre vai ser, o segundo projeto. O primeiro é a construção da personalidade que me apoia, de uma filosofia de vida que me orienta e de uma teia de influências e de exemplos que constitui o arcabouço de minha maneira de ser. Só com o tempo e a convivência com meu pai pude compreender o que é a verdadeira integridade e honestidade; só acumulando os comentários de minha mãe sobre tudo pude ter uma pista do que é verdadeiramente importante; só testemunhando as ações de minha irmã pude aprender a verdadeira generosidade. O hinduismo tem um belo conceito chamado 'Teia de Indra". Segundo ele, o universo é uma teia em que cada nó é uma jóia polida e resplandecente que reflete todas as demais. O brilho de cada jóia afeta as outras e é novamente afetado por elas, e assim infinitamente. Cada um de nós é uma pequena jóia e em nosso brilho se encerra o de todos os que nos tocaram, e através de nós seu brilho nunca vai se apagar.
Para os treinadores de RH que encontrar, vou continuar dizendo que sou um editor (ou a definição que melhor expressar minha carreira daqui a cinco, dez ou 20 anos), mas no meu íntimo a definição é mais longa, porém mais simples e completa ao mesmo tempo: sou alguém que tenta estar à altura de refletir o brilho dos que eu amo.

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