domingo, 25 de abril de 2010

Hoje não quero saber de nada...

...porque é aniversário de meu amigo Omar, o cara mais legal do mundo. Gentil, generoso e bem-humorado, ele é a alma da festa, só que não vai ter festa porque resolveu viajar para Berlim, Nice e outros lugares chatos, em vez de ficar aqui bebendo com os amigos! O que posso fazer, são as escolhas que as pessoas fazem...
Meu mais antigo e constante parceiro de botequim, já acompanhamos mais da metade da vida um do outro, e isso em nosso caso é bastante tempo. Conhecemo-nos na faculdade, no grupinho que, reunindo pessoas do 'interior' ou quase, foi apelidado pela ala cool da classe de "cantinho do faraó". Melhor não lembrar o Omar disso, pois dizem que no trote o enrolaram como uma múmia em papel higiênico... Quem manda ir já na segunda? Fui só na quarta e o máximo que tive de fazer foi desfilar sem camisa para as meninas (eu era tímido, não adiantou nada). Mas já nesse dia conversamos e ficamos inseparáveis. Incrível como conseguíamos nos encontrar sempre, em uma época em que não havia celular (nem telefone eu tinha)! Na época tinha um Ponto Chic em frente ao Shopping Ibirapuera, o cardápio era provolone à milanesa e chopp, terminando com um expresso. Com o passar dos anos, o point passou a ser o Café Creme, na Paulista, e o número de chopes diminuiu e aumentou o de cafés, mas a qualidade da conversa se manteve. Se você quiser falar de cinema, música, vinis antigos e até de negócios, o Omar é o cara. E ele não tem meias palavras: se aquele filme do Woody Allen é ruim, ele vai dizer que é ruim, e se você não gostou do Bastardos inglórios ele vai explicar o que você não entendeu, sem fazer você se sentir ignorante. Mas ele também pode discordar de você numa boa, e cada um na sua... Horas e horas voam, conversando com ele.
Agora crescemos, somos homens de negócios, e não conseguimos nos encontrar mais que umas três ou quatro vezes por ano, mas sempre é como se não tivesse passado um dia. O gibi do Sandman tem uma história em que dois personagens se encontram a cada cem anos para conversar, e ao longo dos séculos percebem que são o melhor amigo um do outro. Para os verdadeiros amigos, o tempo não passa. É um amor como o de família, mas sem nenhuma obrigação. Ou, se existe obrigação, é com você mesmo, pois não quer se negar o prazer da companhia de alguém que é especial para você.
Neste dia desejo tudo de bom para meu amigo, e para todos a felicidade de ter uma pessoa especial com quem compartilhar a vida, mesmo que só algumas horas por ano.
Prost!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Hoje estou apocalíptico

Enquanto assinava alguns documentos, conversava com uma colega sobre a gravidez de uma outra e fiquei sabendo que era "mais um menino", como a maioria dos nascimentos de que ficamos sabendo nos últimos tempos. O comentário de que estavam nascendo só meninos me trouxe à mente uma idéia estranha e pensei alto: "será que vai haver uma guerra?" Não me peça para explicar de onde tirei essa associação catastrófica. Eu mesmo descartei o comentário idiota, dizendo "que horror" e retomei meu trabalho. O que tem a ver? Historicamente, as guerras matam mais homens, mas nem por isso nascem mais homens às vésperas delas. Foi um pensamente idiota, mas me perdoo, pois ele tem um motivo.
O mundo de conforto de quem tem conforto está ameaçado. Para quem vive o dia, visando somente chegar vivo ao dia seguinte, como tantos, não faz muita diferença, mas para nós que podemos curtir nossa Internet, nossa TV a cabo, nossos DVDs e games, faz muita. Por mais que as épocas mudem, no fim somos pecinhas no jogo da natureza e da sociedade, o que falar mais alto naquele momento. Não escapa à atenção de ninguém que o mundo está mudando ao nosso redor, e que vamos presenciar, nos próximos anos ou mesmo meses, mudanças climáticas e estruturais nunca vistas, e essas mudanças podem causar conflitos piores que as guerras do século XX. Infelizmente, o que podemos fazer hoje são soluções para um futuro que não será mais como o presente; temos de agir, mas não para evitar as mudanças: elas já ocorreram. O que resta é a acomodação e o equilíbrio. Koyaanisqatsi, em 83, tentava falar poeticamente sobre esse desequilíbrio, mas foram precisos 20 anos e um vice-presidente americano com um Powerpoint melhorado para a questão ambiental ser ouvida como algo que não é só para 'doidos que lutam pelos pandas e pelas baleias'.
Mesmo que parássemos hoje de emitir CFC, o que está presente na atmosfera vai continuar destruindo a camada de ozônio por mais 15 anos, tempo suficiente para destruí-la quase completamente. Mesmo que cessemos hoje de empilhar lixo e emitir poluição, o que já está aí vai poluir grande parte da pouca água que resta e causar doenças por muitos anos. O que não quer dizer que não devamos fazer nada. A Terra está nos mostrando que existe, que precisa de equilíbrio e que vai fazer com que isso aconteça, quer queiramos quer não. Se alguns milhões de formiguinhas humanas desaparecerem no processo, é irrelevante. Acho que essa consciência de que o que fazemos afeta, sim, o planeta e nossa própria sobrevivência pode ser o empurrão que faltava para mudarmos nossa maneira de agir.

domingo, 18 de abril de 2010

Unindo os pontos

Milena sempre achou que uma antiga colega de trabalho fosse meio 'loki', pois ela contava, comovida, como Deus agia na vida dela e permitia ao Marido cego enxergar o sorriso da neta. É isso mesmo, o marido perdera a visão devido a um estágio avançado de diabetes, mas na sua eterna noite sempre comentava como era lindo o sorriso da netinha, e de fato a neta sorria para ele. A esposa, emocionada, via nisso a mão de Jesus, e se sentia abençoada e compensada porque pelo menos isso ele podia enxergar.
Lendo sobre lesões cerebrais em um livro de divulgação científica, comentei com a Milena sobre um estudo que mostrava que é possível que pessoas que ficaram cegas continuem a perceber emoções nos rostos em fotografias. Segundo relatado por Fernando Reinach, é possível que em alguns casos a retina e o nervo óptico funcionem normalmente, mas algo impeça que a imagem seja enviada à consciência, assim caracterizando a cegueira. Ainda assim, parte da informação visual pode ser transmitida para outra parte do cérebro, que processa emoções, permitindo à pessoa 'adivinhar' a emoção expressa em um rosto fotografado. Ao comentar isso com a Milena, ela juntou os pontos: era isso que acontecia com o marido da colega! As informações visuais não chegavam mais à área do cérebro dele que reconhecia as imagens, mas ele reconhecia as emoções. Dada a sua tragédia pessoal, é possível que poucas pessoas a sua volta se mostrassem muito felizes, então fico imaginando o impacto do invisível sorriso da neta na vida desse homem.
O personagem principal da série House se queixa de que Deus sempre leva o crédito pelo que a ciência faz. Não deixa de ser verdade, mas eu jamais mencionaria àquele casal essa explicação científica. A mão de Deus me parece um consolo melhor.

sábado, 10 de abril de 2010

Almoço em Ribeirão Bonito

O lugar era antes um bar, mas agora não serve mais bebidas, "para não ficar aquela homarada bebendo", exceto aos domingos, quando serve cerveja nas mesas. Se for lá, não se prenda às saladas, pois as folhas são bem lavadas mas têm somente azeite velho como tempero, a gente daqui não é dessas coisas. Vá direto aos 'quentes': abobrinha refogada, purê de mandioquinha, frango à milanesa e calabresa acebolada, acompanhados por um feijão 'caldoso' com tempero no ponto certo e arroz (quem se preocupa com arroz?). O suco de laranja, cujo espremedor foi instalado a pedido de minha mãe, faz um sucesso merecido, e as sobremesas são caseiras, como tudo o mais. OK, também tem refrigerante, que é um estabelecimento moderno!
Quando vim trazer a Mãe para casa, para a reunião da Amarribo, não eperava ficar para almoçar, mas, conversa vai, conversa vem, o ritmo da cidade vai tomando conta. A reunião, marcada para as 20h, foi começar depois das nove, ainda bem que o dia seguinte era sábado. As pessoas foram chegando aos poucos e tive tempo de ler os recortes de jornal ampliados em grandes quadros pelas paredes. Li sobre a história da ONG que desde 1999 luta contra a corrupção nas prefeituras brasileiras, em uma preparação para uma reunião agitada, em que pessoas aparentemente simples da cidade mostravam inteligência e combatividade. A Mãe diz que a reunião foi produtiva, mas todos lamentam a falta de quórum, pois muita gente deveria estar lá para entender como fazer valer seus direitos. Foi uma aula de cidadania, mas também um 'recordatório' de que somos parte de nossos bairros e de nossas cidades, e temos a obrigação de olhar em volta e fazer alguma coisa...