Certa vez, a caminho do trabalho, avistei soldados postados com seus rifles por todas as principais vias públicas. A sensação foi no mínimo curiosa. Embora soubesse se tratar de segurança adicional devido à Unctad, não gostei de ver aqueles garotos semi-imberbes fortemente armados, à espera de um inimigo indefinido. Não vivi realmente o regime militar, embora tenha nascido no ano do AI-5. Quando comecei a ter um pouco de consciência das coisas, já era a campanha das diretas, era a Ditadura cedendo lugar a seus filhotes. Hoje, seus opositores e vítimas estão no poder, celebrando a amizade com algumas das piores ditaduras do mundo.
Sempre vale lembrar a única revolução socialista pacífica que deu certo, a dos Cravos em Portugal. O filme Capitães de abril, da atriz tornada diretora Maria de Medeiros, mostra o dia sobre o qual ninguém de minha geração aprendeu na escola e que Chico Buarque cantava em "Tanto Mar": "Foi bonita a festa, pá./ Fiquei contente/ e inda guardo, renitente/ um velho cravo para mim". O exército não fez o que mais sabe, e sem um único tiro fez sua festa. Mas murchou e a semente esquecida hoje é soja transgênica. Apanhada entre a ânsia de lutar contra o imperialismo ianque e a necessidade de adotar seus métodos, sofrendo sob as sandálias da bajulada Gigante Vermelha, a esquerda pós-Lula tenta recolher o que restou das utopias socialistas que o selvagem Che vislumbrou sobre sua motocicleta.
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