quarta-feira, 31 de março de 2010

"A arte é uma amante ciumenta"

É o que dizia nosso regente, Marco Antonio da Silva Ramos, nos ensaios que alternavam piadas e alta concentração. Sabia que todos trabalhávamos em outras coisas e que dedicávamos à música uma pequena parcea de nossas horas, e isso nem sempre era suficiente. "O coro é amador mas o público não tem nada a ver com isso", dizia também, instigando-nos a dar o máximo pela qualidade daquele nosso 'segundo trabalho'. Sempre defendo esse conceito de 'segundo trabalho' para uma manifestação artística, se não trabalhamos com arte. Não é o que fazemos para viver, mas é o que vivemos para fazer!
Não gosto do conceito de hobby, pois remete a algo que fazemos sem maiores compromissos ou, pior, ao que realmente gostamos de fazer, mas a que não podemos dedicar tempo pois "temos de trabalhar". Acho que devemos sempre encontrar prazer em nosso trabalho, pois é a ele que dedicamos a maior parte do dia. Mas de tanto nos esforçarmos no trabalho oficial acabamos nos cansando e perdendo a perspectiva e a capacidade de resolver problemas (que é o que mais fazemos). A solução é ter outra atividade igualmente demandante, mas que nos exija outra parte do cérebro (ou o outro lado, simplesmente). Música, dança, pintura, são coisas que exigem concentração e esforço; ao nos dedicarmos a elas, acabamos nos desligando dos problemas 'normais', descansando as áreas do cérebro envolvidas com eles; quando voltamos, conseguimos ter uma melhor perspectiva e ser mais eficazes.
O único problema é o título deste texto: a amante às vezes é tão exigente que começa a pedir o tempo que precisamos dedicar à 'patroa', e então temos de escolher. Sei que parece canalhice, mas fazer o quê... Depois de dois anos, vou precisar parar uma atividade artística que me dá muito prazer, mas que não vale a pena fazer mal feita. A separação é difícil, amarga mesmo, mas não tem jeito. É como na canção do Vanzolini:

Cheguei na boca da noite,
saí de madrugada.
Eu não disse que ficava
nem você perguntou nada.
Na hora que eu ia indo,
dormia tão descansada.
Respiração tão macia...
Morena, nem parecia
que a fronha estava molhada.
...
O vento vai para onde quer,
a água corre pro mar.
Nuvem alta em mão de vento
é o jeito da água voltar.
Morena se acaso um dia
tempestade te apanhar,
não foge da ventania,
da chuva que rodopia,
sou eu mesmo a te abraçar!

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