terça-feira, 11 de maio de 2010

Pobres analistas I

Acho curiosa a fixação dos roteiristas americanos por analistas, só superada pelos julgamentos. Em inúmeros enredos o analista assume uma dimensão mítica, de mestre espiritual, enquanto em outros envolve-se na ação. Vêm à memória o analista vivido por Robin Williams em Gênio indomável, que usa a empatia para mostrar o caminho a alguém capaz de perceber a manipulação. Também gosto do analista transformado em gourmet de Sem reservas, cuja função básica é, assumidamente, forçar a protagonista a mudar seus padrões estabelecidos, tarefa mais difícil para o shrink intransigente de Melvin Udall em Melhor impossível. Na série Monk, o analista tem função preponderante, dada a natureza do herói, mas nos poucos episódios que assisti me chamou a atenção por ser o único personagem crível de uma série de personagens unidimensionais e caricatos.
E é claro que são alvo de sátira (não, não vou mencionar o analista de Bagé! Ih, já mencionei...). Um palestrante motivacional disse uma vez que "terapia só serve para você assumir que seus pais foram realmente culpados por tudo, entendê-los e fazer as pazes com isso". Sempre me lembro da tirada em Crocodilo Dundee em que alguém explica ao 'sensível' caçador por que vai ao analista e ele diz "Ah, você não tem amigos, não é?" Pensando bem, ele tem sua razão. Um amigo de verdade elimina grande parte da necessidade de um analista. Até porque após alguns meses de sessão muitos analistas acabam virando 'amiguinhos' que recebem para deixar você passar uma hora inteirinha falando só de você. O pior é que às vezes se esquecem disso e começam a falar deles, contando histórias que não têm nada a ver com seus problemas! Desaforo!
OK, analistas sérios vão se arrepiar por eu dizer isso, mas ora, tem picareta em qualquer área. E, como e qualquer área, os grandes profissionais são poucos e a maioria tem de se virar com os 'maomeno'. A boa notícia é que para nós, meros neuróticos (como me explicou uma amiga, neuróticos somos todos nós, em maior ou menor grau; os diferentes são os psicóticos), os riscos de uma terapia assim assim não são tão grandes, e sempre há melhora, por pior que seja o profissional (pelo menos no começo). Minha teoria para isso deriva da administração: quando você pega uma empresa mal administrada, bagunçada, qualquer pessoa de fora com o mínimo de bom senso pode fazer melhorias (tira essa máquina do caminho, registra os pagamentos, cobra os débitos, coisas assim). Melhora-se muito e rápido, mas depois de certo ponto surge uma estagnação. A partir daí, só um consultor realmente bom vai dar jeito.
Várias pessoas que conheço pararam suas terapias porque começaram a perceber que seus analistas não eram inteligentes, ou cultos, ou informados o suficiente. Fico imaginando que o analista do Woody Allen deve ser um gênio, ou então deve só ouvir, fazendo um aparte a cada 40 ou 50 sessões... Humm, boa estratégia.
Mas... para que serve mesmo a terapia?

2 comentários:

  1. - Você quer se matar? Ok. Mas ontem eu peguei um trânsito quando fui buscar meu filho na escola que foi uma loucura total...
    Aiaiai...já vi isso em algum lugar!!!!

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  2. olha, mas como diria o próprio Woody Allen: a única coisa que aprendi com o meu analista é que eu não vivo sem ele! -
    e claro, sempre digo isso para a minha analista. ha!

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