domingo, 18 de julho de 2010

Saudades bailaoras

A luz que mal bastava para o letreiro do teatro concedia reflexos para tirar da escuridão o estacionamento de terra e cascalho. A porta de aço baixada, parcos carros estacionados. Cheguei cedo para poder falar com as meninas, mas não tão cedo assim! "Será que é aqui mesmo?" A dúvida se desvanece quando alguém grita meu nome e corre em minha direção. É nossa Manuela, a alegria encarnada! Pulamos de alegria, não é brincadeira! Mari, Ximena, Rê, que alegria rever minhas coleguinhas! E minha querida mestra Denise, também esperando na garoa com suas pupilas e seu grande Vitor, meu mestre de cajon. Quem liga para a chuva e o frio, a arte é maior que o atraso do sujeito que não morreu no caminho de morte morrida, mas quase morre de morte matada na chegada.
Arte sofrida essa, mas arte viva. Em seus vestidos de baile, minhas amigas se transformam na alma flamenca e deixam transidas até as criancinhas que até então zanzavam distraídas pela plateia, emocionando com a intensidade de seu olhar e a força de seus taconeos.
"A arte é uma amante ciumenta", e vingativa quando abandonada. A cada dia de descaso ela se distancia mais de você e, se você quiser voltar para ela, terá de se arrastar, se humilhar, se doar de corpo e alma. Ela é orgulhosa... mas agradecida. Um mero lampejo de seus favores faz com que tudo valha a pena.

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