sábado, 18 de setembro de 2010

Foz do Iguaçu

Aceitou a ajuda do carregador para levar as malas porque a escada do hotel era íngreme e as malas estavam pesadas, mas a lerdeza do homem a exasperava.
"O parque fecha às cinco", disse ao companheiro, que subiu com sua própria bagagem.
Estavam cansados da viagem. Dez horas até São Paulo, espera no aeroporto, mais duas horas até Foz, espera pelas malas, táxi até o hotel antiquado. Esperava mais de uma cidade turística, algo como os hotéis do Rio, mas a cidade parecia ter parado em algum momento da década de 80.
"To the falls", soprou ao taxista, que entendeu a mensagem, costurando pela rodovia das Cataratas e deixando-os na entrada do parque. Não percebeu que pagava mais por ser estrangeira, mas não se importaria. Seus conhecimentos de espanhol não ajudavam muito, mas era fácil entender para onde ir e o que fazer; era só seguir os outros turistas. No caminho, foi se lembrando de sua visita a Niagara Falls, de como é impressionante aquela imensidão de água rugindo e fluindo, inesgotável, lembra da sensação de abismo, de vertigem que a queda lhe deu. Não podia vir a Foz e perder a oportunidade de comparar a experiência. Não trouxe câmera; confia em sua memória.
Ela se apressa pela trilha bem-calçada que serpeia por entre as árvores, mas um bando de quatis, atravessando o caminho, a paralisa. Os outros turistas se deleitam com a visão, mas ela conhece bem os perigos de perturbar animais selvagens. Por sorte, os animais logo desaparecem e ela pode voltar a perseguir o rugido. As cataratas logo se exibem para ela, em dezenas de quedas do outro lado do cânion. Muito bonita, pensa, mas não é tão impressionante. Prossegue no caminho, para chegar mais perto. À medida que caminha, outras visões das cataratas lhe sugerem que ainda não viu nada. Sem perceber, caminha cada vez mais rápido pela trilha, absorvendo a paisagem cada vez mais complexa que se lhe oferece. Quando finalmente chega ao observatório, já não acredita no que vê. Ao seu redor, centenas de cachoeiras se derramam infinitamente em diversos níveis, uma catedral aquática esculpida pelo acaso. Sem se importar com a chuva que as quedas provocam, embrenha-se pelas passarelas e não consegue conter o choro ao se ver no meio de tudo aquilo. Sente-se tão pequena, tão pequena, mas ao mesmo tempo cheia de vida, possuída que está por uma natureza tonitruante e generosa.

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